Contributo para o reforço do conhecimento interno e externo da cultura material e do Design de Produto Português
Preambulo:
O alargamento da economia portuguesa, nomeadamente das PME’s, pela exportação ou pela resposta por produtos nacionais às solicitações da procura no mercado interno exige a construção de uma nova imagem da indústria nacional e o fortalecimento da sua identidade no que se refere aos valores percebidos pelo mercado em termos de marca, qualidade e design.
A falta de tradição da nossa indústria no recurso a especialistas para o desenho dos seus produtos, associada a uma imagem nacional débil, tem afastado as empresas portuguesas dos mercados internacionais, muito em particular dos nichos mais avançados da sua actividade.
Ainda não se associa o produto português, a outras qualidades para além do baixo preço decorrente de menores custos de mão-de-obra (a nível Europeu) sendo ainda marcado pelo estigma da baixa tecnologia e de um design rudimentar.
Ora a realidade é outra e urge divulgá-la. Existe em Portugal um património muito relevante de desenvolvimento de produtos, no passado e nos nossos dias. Existem inúmeros exemplos de empresas e Designers absolutamente competitivos a nível mundial, que praticam no dia-a-dia desenvolvimento de produto da mais alta qualidade, colocado internacionalmente nos mais competitivos mercados e que recorrem regularmente ao know-how de Universidades e Institutos de investigação para a apoio á sua concretização em exemplo de boas práticas de I&D.
Apesar disso os Portugueses continuam a pensar que tudo o que é tecnológico ou actual vem lá de fora! Mais do que um problema de baixas capacidades existe um claro problema de baixa auto-estima e desalento no que é concebido e feito por nós, quiçá fruto de uma deficiente informação e de um tenaz complexo de inferioridade em certas áreas da actividade humana.
Inverter este estado de coisas, é a razão primeira do projecto que muito sumariamente se apresenta.
Casa do Design Industrial Português (Museu do Design e da Inovação?)
O que falta, sem dúvida, a muito do tecido industrial português é acreditar em si próprio e aprender com os bons exemplos que estão ao dobrar de cada esquina.
Falta aos nossos produtos a inspiração do design? Mas ele está disponível no mercado? Porque não é mais utilizado?
Falta tecnologia? Mas são inúmeros os exemplos de tecnologias portuguesas a serem desenvolvidas por grandes empresas nacionais e internacionais.
Propósitos como o de investigar, (recolher, coligir, classificar e revelar conceptualmente) o imenso património de artefactos da cultura material que, dispersos por todo o país, vão desaparecendo em cada dia sem que ninguém dê por isso, são razão suficiente para perceber a premência deste projecto.
No entanto, o seu propósito tem um enquadramento social e nacional mais vasto: corrigir a usual limitação do conceito design, aumentar a auto-estima dos portugueses, envolver profundamente os industriais no design, incrementar a discussão científica e tecnológica do tema, constituir um pólo de referência para as escolas e para a população em geral, um lugar de identidade para os projectistas,
e sobretudo, construir dentro e fora de fronteiras, uma nova identidade para a industria de Portugal.
A falta de um pensamento sobre o design português a par da carência de qualquer levantamento disciplinar sobre a existência e história dos seus artefactos, traduzem-se pelo aparente desinteressepúblico, utilização incorrecta do conceito e sobretudo pouca atenção por parte do nosso tecido cultural, com consequências graves para a afirmação internacional da sua identidade e evidente entrave ao seu futuro e competitividade.
Analisar o acréscimo da criatividade aplicada aos objectos mais correntes do dia-a-dia e não limitar esse enfoque a produtos de nicho, exclusivos, caros e culturalmente marcados (estratégia que se torna hegemónica na maioria das iniciativas referentes ao Design em Portugal), como valor de identidade e denominador comum às produções portuguesas, tendo como mostra os territórios de produção de artefactos da cultura material é o programa desta iniciativa.
De uma forma resumida poderíamos dividir a estratégia expositiva em três vectores.
1 - Exposição permanente visando cotejar exemplos actuais de produtos desenvolvidos em Portugal com as raízes criativas de outros tempos. Como exemplo deste tipo de estratégia expositiva poderíamos imaginar a apresentação das principais inovações náuticas portuguesas do séc XV aos exemplos posteriores da nossa saga naval (em imagem e texto) terminando no destaque (em produto real) de um caiaque NELO de competição em fibra de carbono.
Muitos produtos actuais permitiriam esta estratégia que constituiria um núcleo agregador e central da mensagem expositiva.
2 – Exposição permanente do acervo dos produtos de Design Industrial desenvolvidos em Portugal – dos estiradores da Olaio, ao material de desenho MOLIN, às motorizadas Pachancho, do UMM à frente dos regionais da CP, de electrodomésticos a garrafas de gás, de artigos de papelaria a tantos e tantos artefactos do nosso dia-a-dia o acervo é imenso e urgente preservá-lo e dá-la a conhecer.
3 – Exposições temáticas (criadas na Casa ou recebidas por intercambio com a rede internacional de infoestruturas deste tipo)
Parte integrante de qualquer estratégia deste tipo seria a consideração de uma pequena cafetaria e de uma loja do design, estrategicamente localizada nas instalações, vocacionada à comercialização de livros e artefactos, assim como à mostra e venda de produtos tipo "prenda", seleccionados nas indústrias nacionais com o objectivo de incrementar as capacidades de auto financiamento do museu.
Julgamos que para a realização deste projecto (que perseguimos há longos anos e temos proposto junto de diversas instituições sem resultados palpáveis) popderá ter agora condições favoráveis para vingar junto da estrutura da FEUP.
O actual Director Professor Carlos Costa, a quem demos conta da iniciativa, expressou o seu apoio pessoal e manifestou o interesse em que as convenientes sinergias fossem encontradas dentro da instituição.
Neste cenário a ligação ao SDI como fornecedor de know-how museológico e ao Design Studio FEUP como identificador de conteúdos a serem trabalhados, parece óbvia e natural.
Para que o projecto possa ganhar consistência será no entanto necessário estruturar a curto prazo uma estratégia que terá de passar por diversos pontos, em seguida sumariamente referidos:
a) Criar uma equipa de trabalho mínima (task force) envolvendo pessoas capazes redigir a documentação básica de suporte da proposta.
b) Passar esse elemento de trabalho à Direcção da FEUP para esta poder de forma institucional fazer os contactos prospectivos que entender necessários.
c) Encontrar um grupo mínimo de parceiros para o projecto (Autarquia? Associações Empresariais? Universidade? Poder central?)
d) Elaborar um pré-projecto de estatutos, modelo de funcionamento, instalação e de viabilidade económica.
e) Identificar um local para instalação dotado das necessárias condições de acessibilidade e visibilidade, nomeadamente no circuito turístico.
f) Constituir uma entidade jurídica própria (fundação? associação?) ou subsidiária de outra existente (Associação Empresarial, Consórcio?) para tutelar o projecto.
g) Nomear uma comissão instaladora capaz de estabelecer as necessárias cooperações entre os diferentes parceiros e implementar a obra.
Este projecto enquadra-se de forma muito clara em toda estratégia de Faculdade de Engenharia do Porto no tocante ao desenvolvimento das competências nacionais em Desenvolvimento de Produto e deverá ser visualizado no exterior como parte do projecto de consolidação do Design Studio FEUP.
Também na vertente divulgação das potencialidades de apoio e ligação da FEUP, dos seus Centros de Investigação e Desenvolvimento e dos seus Institutos de Interface com tecido empresarial capazes de suportar projectos alicerçados em boas práticas de I&D, esta iniciativa poderá dar relevante contributo.
Dados os seus antecedentes, enquadra-se ainda nas acções conjuntas e terá o apoio da Universidade de Aveiro e do iD+ na vertente de investigação em Design e do Centro Português de Design na vertente de divulgação do Design Português.
Carlos Aguiar