12/19/2011

É Natal

Todos os recursos e capacidades, cobertos pelos inúmeros territórios da polissémica actividade do design, deveriam dar o seu melhor, neste tempo onde o tempo se torna cada vez mais escasso, para construir um futuro viável para humanidade na nave espacial Terra que tão descuidada e efemeramente ocupamos.
Muito mais do que buscar um propósito apenas centrado na conformação do significado cultural dos artefactos, muitas vezes construído em torno da exclusividade e da novidade a qualquer preço; indiferente ao contexto sócio económico em que vive mais de metade da população do planeta (com um rendimento diário inferior a 2$ e que muito convenientemente ignoramos a par de muitos outros que aqui bem perto são igualmente excluidos do sistema da abundancia hedonista) o design deve urgentemente reafirmar a sua capacidade de se articular com todas as outras valências do projecto para, em cooperação, construir uma nova postura operativa, contribuir para a salvaguarda de valores de equidade e sustentabilidade da espécie humana e para além dela, do planeta.
A escassez de recursos naturais, que lança a economia mundial e o preço de bens essenciais, em cíclicas e frenéticas espirais de especulação é agora cada vez mais um cenário incontornável, impossível de ignorar, e no qual a crise  generalizada do fim de 2008 e o actual colapso da zona euro, veio novamente patentear a inquietante fragilidade da regulação apenas baseada no equilíbrio especulativo do sistema financeiro.


QUANDO LHE PERGUNTARAM: “PRETENDE DETER O PROGRESSO” HOWARD RHEINGOLD CRÍTICO DA TECNOLOGIA REPLICOU:
“O PROGRESSO PARA ONDE?”
(http://en.wikipedia.org/wiki/Howard_Rheingold)

O design, conformador de argumentos e gerador de emoções e significados, tem de ser capaz de se colocar claramente ao serviço das pessoas e não, como até agora, do consumo, promovendo uma nova vivencia em maior sintonia com os recursos e o meio, difundindo e valorizando uma apropriação renovada dos valores da racionalidade e do engenho.
É necessário pensar em “menos impacto ambiental” em muitas frentes: nos materiais utilizados, no processo de fabrico, e na energia realmente necessária a tudo o ciclo de vida do objecto, desde a sua origem à deposição, passando naturalmente pela utilização. É necessário que os bens sejam mais usados e mais partilhados. É necessário que o balaço custo energético/dividendos seja muito mais ponderado e optimizado.
Se nas sociedades da abundância o novo Design é fundamental para construir o imperativo de minimizar o desperdício; por exemplo deixando de submeter a racionalidade térmica dos edifícios a modas formais em arquitectura (fala-se disto há tanto tempo e tão pouca atenção se continua a dar ao assunto!), nos cenários de grande carência o engenho do Design terá de encontrar soluções imaginativas para levar produtos e serviços às populações que as ajude a construir uma melhoria efectiva da sua qualidade de vida e não apenas a aumentar o consumo sempre crescente de bens, que todos sabemos ser a prazo 
a prazo, impossível de sustentar.

Bom Natal
Carlos Aguiar